sábado, 25 de dezembro de 2010

Justificados pela fé

Lição 432010


Sábado à tarde

Ano Bíblico: Pv 28–31



Verso para Memorizar: “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei” (Romanos 3:28).



Leituras da semana: Rm 3:19-28



Nesta lição, vamos entrar no tema básico da epístola aos Romanos: justificação pela fé. Essa expressão é uma figura baseada na lei. O transgressor da lei comparece diante de um juiz e é condenado à morte por suas transgressões. Mas um substituto aparece e toma sobre si mesmo os crimes do transgressor, inocentando assim o criminoso, que – caso seja aceito o substituto – permanece perante o juiz não só absolvido de sua culpa mas considerado como se nunca houvesse cometido os crimes pelos quais foi levado ao tribunal. E isso porque o substituto – que tem um histórico perfeito – oferece ao criminoso perdoado sua própria perfeita observância da lei. Assim, o culpado está diante do juiz como se nunca houvesse transgredido.


Ninguém está dizendo que a pessoa é inocente. Ao contrário, sua culpa é clara. As boas-novas são que, apesar da culpa, ela está perdoada.


No plano da salvação, cada um de nós é o criminoso. O substituto, Jesus, tem um histórico perfeito, e Se posta diante do tribunal em nosso lugar, sendo Sua justiça aceita em lugar de nossa injustiça. Consequentemente, somos justificados diante de Deus, não por causa de nossas obras, mas por causa de Jesus, que nos concede Sua justiça quando a aceitamos “pela fé”. Vem daí a expressão “justificação pela fé”. Não importa nosso passado. Quando aceitamos Jesus, nos apresentamos diante de Deus em Sua justiça, a única justiça que nos pode salvar.


Que grandes boas-novas! De fato, as novas não poderiam ser melhores que estas!




Domingo

Ano Bíblico: Ec 1–4


As obras da lei



1. Qual é o real objetivo da lei? O que ela não pode fazer? Rm 3:19, 20. Por que este ponto é tão importante para todos os cristãos?



Paulo usa a palavra lei em seu sentido amplo, como os judeus de seus dias a entendiam. Pela palavra Torah (a palavra hebraica traduzida como “lei”), até hoje, um judeu pensa particularmente na instrução de Deus nos primeiros cinco livros de Moisés, mas também mais amplamente, em todo o Antigo Testamento. A lei moral, mais sua amplificação nos estatutos e juízos, bem como nos preceitos cerimoniais, era parte dessa instrução. Por causa disso, neste verso, podemos pensar na lei como o sistema do judaísmo.


Estar sob a lei significa estar sob sua jurisdição. No entanto, a lei revela as negligências e culpas de uma pessoa diante de Deus. A lei não pode remover essa culpa; o que ela pode fazer é levar o pecador a buscar um remédio para isso.


Na aplicação do livro de Romanos em nossos dias, quando a lei judaica não mais é um fator, pensamos na lei especialmente em termos da lei moral. Essa lei não pode nos salvar mais do que o sistema do judaísmo podia salvar os judeus. Salvar o pecador não é a função da lei moral. Sua função é revelar o caráter de Deus e mostrar ao povo onde este deixa de refletir esse caráter.


Qualquer que seja essa lei – moral, cerimonial, civil ou todas combinadas – a guarda de qualquer ou de todas, em si mesma, não tornará ninguém justo à vista de Deus. De fato, a lei nunca foi planejada para fazer isso. Ao contrário, a lei deve assinalar nossas negligências e nos levar a Cristo.


Assim como os sintomas de uma doença não podem curar a doença, também a lei não pode salvar. Os sintomas não curam; eles assinalam a necessidade de cura. É assim que a lei funciona.



Você tem sido bem-sucedido em seus esforços de guardar a lei? O que a resposta diz sobre a inutilidade de tentar ser salvo pela guarda da lei?




Segunda

Ano Bíblico: Ec 5–8

Fé e justiça



2. Em contraste com a justiça humana, como ensina Deus que o cristão recebe a justiça? Rm 3:21



Essa nova justiça é contrastada com a justiça da lei, que era a justiça com a qual os judeus estavam familiarizados. A nova justiça é chamada de “justiça de Deus”; isto é, uma justiça que vem de Deus, que Deus fornece, e a única que Ele aceita como verdadeira.


Evidentemente, esta é a justiça que Jesus trouxe enquanto viveu como ser humano, justiça que Ele oferece a todos os que a aceitarem pela fé, que a buscarem para si mesmos, não porque merecem mas porque precisam dela.


“Justiça é obediência à lei. A lei requer justiça, e esta o pecador deve à lei; mas ele é incapaz de apresentá-la. A única maneira em que pode alcançar a justiça é pela fé. … A justiça de Cristo é aceita em lugar do fracasso do homem, e Deus recebe, perdoa, justifica o arrependido e crente, trata-o como se fosse justo e o ama tal qual ama Seu Filho” (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 367).



3. Como você pode aprender e aceitar essa maravilhosa verdade? (Veja também Rm 3:22.)



Como opera na vida cristã, a fé é muito mais que o assentimento intelectual; é mais que um mero reconhecimento de certos fatos sobre a vida de Cristo e Sua morte. Mais que isso, a verdadeira fé em Jesus Cristo é a aceitação dEle como Salvador, substituto, segurança e Senhor. É a escolha de Seu estilo de vida.




Terça

Ano Bíblico: Ec 9–12

Graça e justificação



4. Tendo em vista o estudado até agora sobre a lei e o que ela não pode fazer, o que Paulo diz sobre a fonte de nossa redenção? Rm 3:24. Que significa “a redenção que há em Cristo Jesus?



O que é essa ideia de justificar, encontrada no texto? A palavra grega dikaioo, traduzida como justificar, pode significar fazer justo, declarar justo ou considerar justo. A palavra vem da mesma raiz de dikaiosune, justiça, e a palavra dikaioma, requisito justo. Somos justificados quando somos “declarados justos” por Deus.


Antes dessa justificação, a pessoa é injusta e, deste modo, inaceitável a Deus; depois da justificação, ela é considerada justa e, portanto, aceitável a Ele.


E isso só acontece por meio da graça de Deus. Graça significa favor. Quando um pecador se volta para Deus em busca de salvação, é um ato de graça considerar ou declarar que essa pessoa é justa. É favor não merecido, e o que busca a Deus é justificado sem nenhum mérito de sua parte, sem nenhuma alegação para apresentar a Deus em seu favor a não ser seu absoluto desamparo. A pessoa é justificada pela redenção que há em Cristo Jesus, a redenção que Jesus oferece como substituta e segurança do pecador.


A justificação é apresentada em Romanos como um ato ocorrido em um tempo determinado. Em um momento, o pecador está fora, injusto e não aceito; no momento seguinte, após a justificação, a pessoa está dentro, aceita e justificada.


A pessoa que está em Cristo considera justificação um ato passado, ocorrido quando se rendeu completamente a Cristo. Portanto, a melhor leitura para “justificados” (Rm 5:1) é, literalmente, “tendo sido justificados”.


Obviamente, se o pecador justificado cair novamente e, então, voltar a Cristo, a justificação ocorrerá novamente. Da mesma forma, se a reconversão é considerada uma experiência diária, existe um sentido em que a justificação pode ser considerada uma experiência repetitiva.



Se as boas-novas de salvação podem ser consideradas tão boas, o que impede as pessoas de aceitá-las? Em sua própria vida, o que o impede de aceitar tudo o que o Senhor promete e lhe oferece?




Quarta

Ano Bíblico: Ct 1–4

“Sua justiça”



Em Romanos 3:25, Paulo se aprofunda nas boas-novas de salvação. Ele usa uma figura de linguagem: propiciação. A palavra grega, hilasterion, ocorre no Novo Testamento só aqui e em Hebreus 9:5, onde é traduzida como propiciatório. Como é usada em Romanos 3:25, descrevendo a oferta de justificação e redenção em Cristo, propiciação parece representar o cumprimento de tudo o que era simbolizado pelo propiciatório no santuário do Antigo Testamento. Então, isso significa que, por meio de Sua morte sacrifical, Jesus é erguido como o meio de salvação e é representado como aquele que fornece a propiciação. Em resumo, significa que Deus fez todo o necessário para nos salvar.


O texto também fala sobre a “remissão dos pecados” (RC), ou que Deus havia “deixado impunes os pecados” (NVI). São os nossos pecados que nos tornam inaceitáveis a Deus. Por nós mesmos, nada podemos fazer para cancelar nossos pecados. Mas, no plano de redenção, Deus proveu um meio para que esses pecados sejam redimidos pela fé no sangue de Cristo.


A palavra assim traduzida do grego é paresis, literalmente “passar sobre” ou “passar por alto”. O “passar sobre” em nenhum sentido significa ignorar os pecados. Deus pode passar por alto os pecados do passado porque, por Sua morte, Cristo pagou a penalidade dos pecados de todos. Portanto, qualquer pessoa que tenha “fé em Seu sangue” pode ter seus pecados redimidos, pois Cristo já morreu por eles (1Co 15:3).



5. Tendo sido salvos pela fé, mediante a graça, que motivo temos para nos orgulhar? Rm 3:26, 27



As boas-novas que Paulo estava ansioso para compartilhar com todos os que o ouvissem eram que “a Sua justiça” [isto é, de Deus] está disponível a todos, e que essa justiça nos vem, não por meio de obras, não por nossos méritos, mas pela fé em Jesus e no que Ele fez por nós.


Por causa da cruz do Calvário, Deus pode declarar justos os pecadores e ainda ser considerado justo aos olhos do Universo. Satanás não pode apontar seu dedo acusador sobre Deus, pois o Céu fez o sacrifício supremo. Satanás acusou Deus de pedir da raça humana mais do que Ele próprio estava disposto a dar. A cruz refuta essa acusação.



Satanás esperava que ­Deus destruísse o mundo depois do pecado; ao contrário, Ele enviou ­Jesus para salvá-lo. O que isso nos diz sobre o caráter de Deus? Como o conhecimento de Seu caráter deve afetar nossa vida? Como sua vida vai mudar nas próximas 24 horas como resultado direto de saber como é Deus?




Quinta

Ano Bíblico: Ct 5–8


Fé e obras



6. “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei” (Rm 3:28). Isso significa que não se exige que obedeçamos à lei, visto que ela não nos salva? Explique sua resposta.



No contexto histórico, em Romanos 3:28, Paulo estava falando da lei em seu sentido mais amplo do judaísmo. Por mais conscienciosamente que um judeu tentasse viver sob esse sistema, se deixasse de aceitar Jesus como o Messias, essa pessoa não poderia ser justificada.


Este verso é a conclusão de Paulo à afirmação de que a lei da fé exclui a jactância. Se a pessoa fosse justificada por suas próprias ações, poderia se jactar disso. Mas quando é justificada porque Jesus é o objeto de sua fé, então, o crédito pertence claramente a Deus, que justifica o pecador.


Ellen G. White dá uma resposta interessante à pergunta “O que é justificação pela fé?” Ela escreveu: “É a obra de Deus ao lançar a glória do homem no pó e fazer pelo homem aquilo que ele por si mesmo não pode fazer” (Ellen G. White, Testemunhos Para Ministros e Obreiros Evangélicos, p. 456).


As obras da lei não podem expiar os pecados passados. A justificação não pode ser comprada. Só pode ser recebida pela fé no sacrifício expiatório de Cristo. Então, neste sentido, as obras da lei não têm nada que ver com a justificação. Ser justificado sem obras significa ser justificado sem haver nada em nós que mereça a justificação.


Mas muitos cristãos têm entendido mal e distorcido esse texto. Dizem que tudo o que uma pessoa tem que fazer é crer, ao mesmo tempo em que subestimam as obras ou a obediência, até mesmo a obediência à lei moral. Assim procedendo, eles fazem uma leitura completamente equivocada de Paulo. No livro de Romanos, e em outros lugares, Paulo dá grande importância à observância da lei moral. Jesus também certamente fazia o mesmo, assim como Tiago e João (Mt 19:17; Rm 2:13; Tg 2:10, 11; Ap 14:12). O ensino de Paulo é que, embora a obediência à lei não seja o meio da justificação, a pessoa que é justificada pela fé ainda observa a lei de Deus e, de fato, é a única que pode guardar a lei. Uma pessoa não regenerada, que não foi justificada, nunca poderá cumprir os requisitos da lei.



Por que é tão fácil ser apanhado pela armadilha de achar que, porque a lei não nos salva, não precisamos nos preocupar em guardá-la? Alguma vez você já racionalizou o pecado apelando para a justificação pela fé? Por que essa é uma posição muito perigosa? Ao mesmo tempo, onde estaríamos sem a promessa de salvação, mesmo quando tentados a abusar dela?




Sexta

Ano Bíblico: Is 1–4

Estudo adicional



Leia Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 236-239: “A Justiça de Cristo na Lei”; p. 331-335: “Vinde, Buscai, e Encontrareis”; p. 373, 374: “Obediência Perfeita por Meio de Cristo”; Parábolas de Jesus, p. 128, 129: “Onde Encontrar a Verdade”.



O caráter de Cristo substituirá o seu caráter, e você será aceito diante de Deus exatamente como se não houvesse pecado” (Ellen G. White, Caminho a Cristo, p. 62).


“Graça é favor imerecido. Os anjos, que nada conhecem de pecado, não compreendem o que seja a aplicação da graça para com eles; mas nossa pecaminosidade requer a concessão da graça por parte de um Deus misericordioso” (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 331, 332).


“A fé é a condição sob a qual Deus escolheu prometer perdão aos pecadores; não que exista na fé qualquer virtude pela qual a pessoa mereça a salvação, mas porque a fé pode prevalecer-se dos méritos de Cristo, o remédio provido para o pecado. A fé pode apresentar a perfeita obediência de Cristo em lugar da transgressão e rebeldia do pecador. Quando o pecador crê que Cristo é seu Salvador pessoal, então, de acordo com as Suas promessas infalíveis, Deus lhe perdoa o pecado e o justifica livremente. Aquele que se arrepende reconhece que sua justificação vem porque Cristo, como seu substituto e penhor, morreu por ele, e é sua expiação e justiça” (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 366, 367).


“Embora a lei não possa perdoar a pena do pecado, mas responsabilize o pecador por toda a sua dívida, Cristo prometeu perdão abundante a todos os que se arrependem e creem em Sua misericórdia. O amor de Deus se estende, abundante, ao que se arrepende e crê. O estigma do pecado só se pode apagar com o sangue do sacrifício expiatório. Não se requereu nenhum sacrifício menor do que o sacrifício daquele que era igual ao Pai. A obra de Cristo – Sua vida, humilhação, morte e intercessão pelo homem caído – engrandece a lei e a torna gloriosa” (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 371).



Perguntas para consideração


1. Leia os textos desta semana e então, em suas próprias palavras, escreva um parágrafo resumindo o que eles dizem. Compartilhe seu parágrafo com os outros em sua classe.
2. Pense no custo de nossa salvação: a morte do Filho de Deus. O que isso deve nos dizer sobre a gravidade do pecado? Afinal, se deixássemos de pecar e nunca fizéssemos isso novamente, por que isso ainda não seria suficiente para nos tornar justos diante de Deus? Como esse fato pode nos motivar a resistir à tentação de pecar?
3. De que modos podemos ser tentados a abusar dessas maravilhosas novas sobre a salvação unicamente pela fé? Em que armadilha alguém pode cair nesse tipo de pensamento? (Veja 2 Pe 3:16; 1Jo 3:7.)

Comentários

Lição 4 – JUSTIFICADOS PELA FÉ

José Carlos Ramos

O que vem a ser a justificação pela fé?

Bem, em sua parte introdutória, a lição responde a esta pergunta com uma ilustração objetiva. Somos justificados de nossos crimes (todo pecado é um crime) no momento em que aceitamos Jesus como Salvador. Não há outra maneira de aceitá-Lo a não ser pela fé.



Então, a única maneira de sermos justificados ante a justiça divina é também pela fé.


Jesus pode nos salvar porque assumiu inteiramente nossa culpa, pagando na cruz o preço da nossa redenção. Quando cremos nEle, Sua vida de perfeita obediência à lei de Deus nos é creditada; assim, Ele morre por Lhe ser imputada nossa culpa: “o salário do pecado é a morte” (Rm 6:23), e nós vivemos porque nos é imputada a Sua justiça: “...o homem que praticar a justiça decorrente da lei viverá...” (Rm 10:5).


Como definição básica, justificação pela fé é isso. Mas, no tocante a nós, são dignas de nota as implicações de tão inefável processo de salvação. Três citações de Ellen G. White a esse respeito são pertinentes:



A lei requer justiça, e esta, o pecador deve à lei; mas ele é incapaz de a apresentar. A única maneira pela qual ele pode alcançar a justiça é a fé. Pela fé, ele pode apresentar a Deus os méritos de Cristo, e o Senhor lança a obediência de Seu Filho a crédito do pecador. A justiça de Cristo é aceita em lugar do fracasso do homem, e Deus recebe, perdoa, justifica o pecador arrependido e crente, trata-o como se fosse justo, e o ama tal qual ama Seu Filho (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 367).


...Cristo assumiu a posição de fiador e libertador ao Se tornar pecado pelo homem, para que este pudesse tornar-se a justiça de Deus... Os pecadores só podem ser justificados por Deus quando Ele lhes perdoa os pecados, suspende a punição que eles merecem e os trata como se realmente fossem justos e não houvessem pecado... Eles são justificados unicamente pela justiça imputada por Cristo (Ibid., v. 3, p. 194).


Conforme o pecador penitente e contrito diante de Deus discerne a expiação de Cristo em seu favor, e aceita esta expiação como sua única esperança nesta vida e na futura, seus pecados são perdoados. Isso é justificação pela fé,... o oposto de condenação. A misericórdia ilimitada de Deus é exercida para com aqueles que são completamente indignos. Ele perdoa transgressões e pecados por amor de Jesus, que Se tornou a propiciação pelos nossos pecados. Pela fé em Cristo, o transgressor culpado é conduzido ao favor de Deus e à forte esperança de vida eterna (SDABC, v. 6, p. 1.070, 1.071).

Algo tão significativo e prazeroso é o tema principal de Paulo na epístola aos Romanos. Vamos à lição.


I. As obras da Lei


Romanos 3:20 diz que “pela lei vem o pleno conhecimento do pecado.” Paulo se vale desse fato para afirmar que ninguém é justificado “por obras da lei”. Quanto mais o pecador dela se vale, mais ele se vê por ela condenado.


Com efeito, quem tenta alcançar a salvação pela lei, tenta o impossível. O exemplo dos judeus no passado é clara evidência desse fato. Referindo-se a eles, Paulo disse: “Israel, que buscava a lei de justiça, não chegou a atingir essa lei. Por quê? Porque não decorreu da fé e, sim, como das obras. Tropeçaram na pedra de tropeço” (9:31, 32).


Para eles, a pedra de tropeço foi Jesus, pois não O aceitando, descartaram o único meio de se tornar justos diante de Deus.



“Porquanto, desconhecendo a justiça de Deus, e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus” (10:3). Uma lei transgredida nunca pode justificar o transgressor, por mais que ele passe a se esforçar por obedecer-lhe. “...Por obras da lei ninguém será justificado” (2:16).


Além de afirmar que a lei não tem capacidade para remover a culpa que o pecador tem diante de Deus (culpa por ela mesma revelada), a lição afirma também que “o que ela pode fazer é levar o pecador a buscar um remédio para isso.” Como? Naturalmente, por ressaltar o pecado no pecador (ver 7:5), a lei desperta sua consciência induzindo-o a buscar uma possível solução para o impasse, um recurso pelo qual ele se livre da condenação. Esse recurso é Cristo. É dessa forma que a lei conduz a Cristo, e o faz para que finalmente alcancemos a justificação pela fé (ver Gl 3:24).


Colocando em outros termos, vendo-se condenado, e almejando livrar-se da morte, o pecadorprocurará, talvez até desesperadamente, um meio de escape, somente para acabar descobrindo que esse meio existe exclusivamente por meio de Jesus. Nesse caso podemos dizer que a lei induz o pecador a Cristo, “o Cordeiro de Deus que tira o pecado” (Jo 1:29). Como a lição afirma, “a lei deve assinalar nossas negligências e nos levar a Cristo.”


II. Fé e justiça


Qual é a relação entre fé e justiça? A primeira é o método para se obter a segunda. Romanos 3:21 se refere à justiça de Deus, “sem lei” manifestada, mas por ela testemunhada. O texto afirma: “Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas”. Em que sentido a justiça de Deus se manifestou sem lei? Porventura não foi por Jesus observar perfeitamente a lei que a justiça de Deus se tornou manifesta? Bem, justiça aqui não significa meramente equidade, retidão, probidade, lisura, etc, pois Jesus reuniu 100% de tudo isso e de tudo o mais que se liga à justiça.


Mas o sentido de “justiça de Deus” aqui é mais abarcante. Refere-se também ao dom por Ele oferecido a todos que aceitam Jesus (ver 5:17, onde a justiça é referida como “dom”). Mas consideremos brevemente os ingredientes desse texto:


“Mas agora...” – um contraste de tempo e de circunstância. Na perspectiva do tempo o agora de Deus é a encarnação, com destaque para o Calvário (ver Gl 4:4). Antes do agora, tudo o que tínhamos era a promessa da redenção vindoura. Agora ela é uma realidade. No aspecto circunstancial, o agora de Deus é visto com a caducidade do recurso salvífico do homem. Agora que ficou devidamente evidenciado que todos estão perdidos, e nada podem fazer, o recurso de Deus se destaca.


“...Sem lei...” – a justificação pela fé não conta com nenhuma contribuição (preparatória, acessória ou subsidiária) que seja dada por obras da lei. “Sem lei” significa sem o mérito humano, sem Deus levar em consideração o que o homem fez de bem, ou mesmo de mal. Ninguém é tão bom que possa dispensar o plano de Deus; ninguém é tão mau que não possa se valer dele.


“...Testemunhada pela lei e pelos profetas” – isto é, o Pentateuco e o restante do Antigo Testamento. Há uma continuidade natural entre as duas dispensações e os dois testamentos. O meio de salvação é um para ambas, e um em ambos. Aqui temos um claro exemplo de como Paulo usa o termo lei com sentidos diferentes. Portanto, é bom nunca nos precipitarmos em dizer o que o termo significa. Há que se dar sempre atenção ao contexto.


O v. 22 confirma que a “justiça de Deus” é um dom que Ele almeja conceder ao pecador; e mostra como é auferida: “mediante a fé em Jesus Cristo, para todos os que creem...”. Observemos igualmente o que este texto encerra (leia-o primeiramente na Bíblia):


“...Fé em Jesus Cristo...” – Jesus é o objeto, não o sujeito, da fé. Não a fé que Jesus possuiu, revelou e exemplificou (sentido esse que estaria incluído em Ap 14:12); mas fé em Jesus. Não se trata daquela fé comum, quase que vulgar, em Deus. Não é questão de simplesmente dizer “eu creio em Deus, que Ele existe, etc.”. Mas fé direcionada a Cristo, ao que Ele operou historicamente na cruz: redenção (livramento), propiciação (reconciliação) e vindicação da justiça. O nome completo, Jesus Cristo, aponta-O como Salvador, Redentor e Senhor. É fé nEle, como tal, que nos relaciona adequadamente com a justiça de Deus, e nos justifica.


“...Para todos os que creem...” – não é mera redundância, tendo em vista que a “fé em Jesus Cristo” é expressa imediatamente antes. “Fé em Jesus” é o método de se apropriar da salvação. “Todo o que crê” aponta para a universalidade da salvação (salvação à disposição de todos). Confirma o fato de que todos estão perdidos e são carentes do plano de Deus. Por isso, Paulo acrescenta logo a afirmação: “porque não há distinção.” Mas note que a salvação é auferida individualmente; daí a necessidade de uma resposta pessoal do homem: crer.


III. Graça e justificação


Graça é a fonte da “justiça de Deus” como dom; justificação é o resultado.


O estudo de hoje é fundamentado em Romanos 3:24: “...sendo justificados gratuitamente, por Sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus”. A lição comenta satisfatoriamente o texto. Apenas acrescento o seguinte, analisando o que Paulo afirma:


Para melhor estrutura das frases devemos considerar os versos 22up e 23 parentéticos (“porque não há distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus”), e ligar “sendo justificados gratuitamente por sua graça” com “justiça de Deus... para todos os que creem” (v. 22). “Gratuitamente” combina com “sem lei” (v. 21) e com “mediante a fé” ou “todos os que creem” (v. 22). Justificação é um dom gratuito de Deus.


“...Gratuitamente...” e “...por Sua graça...” são sinônimos e servem de ênfase para o caráter de desmerecimento humano: nenhum pecador merece o dom de Deus, isto é, Deus não é constrangido a nos justificar por algum ato meritório de nossa parte. Nosso mérito, se há algum, consiste em nossa extrema necessidade de Deus e de Sua salvação. Nada em nós ou praticado por nós pode recomendar-nos a Deus. O dom é exclusividade, iniciativa e total realização dEle.


“..Redenção...” é palavra-chave no tema da justificação pela fé. Gratuita para o homem, a justificação, todavia, custou um preço para Deus. Justificação é pela graça, isto é, o homem não entra com nenhum mérito. Justificação se efetiva através de redenção, ou seja, o custo é pago totalmente por Deus. O que Deus pagou, ou fez, realça a salvação como dom gratuito dEle para o homem.


Significado básico de redenção: resgate pelo pagamento de um preço. A ideia no evangelho é de resgate substitutivo: Mt 20:28; Mc 10:45. O preço = dar Sua vida (Tt 2:14), ou derramar Seu sangue (Ef 1:7; cf. 1Pe 1:18).


A ideia é de livramento por meio de um preço pago. Primariamente, o sentido é de um preço pago para a libertação de escravos, ou prisioneiros de guerra. A quem foi pago o preço? A Bíblia silencia. A Deus? Ele mesmo providenciou o pagamento. A Satanás? Ele é apenas um usurpador. Por inferência, podemos supor que foi à própria justiça de Deus.


É dito que a “redenção” está em Cristo: ela não é vista somente naquilo que Cristo fez, mas nEle mesmo. Ele é a redenção personalizada.


IV. “Sua justiça”


O texto de estudo para hoje é Romanos 3:25-27. Novamente concorro com as seguintes colocações em adição à boa aplicação que a lição faz (primeiro leia o texto em sua Bíblia):


“Propiciação” é outro termo-chave na doutrina da justificação pela fé. Refere-se à provisão feita por Deus para a nossa justificação.



Enquanto redenção diz respeito à nossa escravidão no pecado e é a provisão da graça para nos libertar, propiciação se refere à nossa sujeição à ira de Deus e é a provisão da graça pela qual podemos nos livrar dela.


Entretanto, não devemos confundir a ira de Deus com o emocionalismo doentio que os adoradores pagãos atribuíam aos seus deuses, ira que poderia ser aplacada por algum tipo de oferta providenciada pelo adorador. A indignação de Deus contra o pecado tem que ver com a santidade de Seu caráter. E não é esperado que o pecador faça alguma coisa para aplacar a ira de Deus. A iniciativa, e o ato de propiciar ou aplacar, são exclusivas de Deus; veja que o apóstolo registra a fórmula Deus propôs. Isto significa que o mesmo Deus que odeia o pecado com todas as fibras do Seu ser, ama o pecador de tal forma que deu Seu único Filho para expiar os pecados do mundo todo (Jo 3:16; 1Jo 2:2). A cruz é a consequência e não a causa do amor de Deus.


O resultado da redenção é libertação que abre caminho para a santificação. É discutida a partir do cap. 6 (ver também Ef 5:25, 26; Tt 2:13, 14). Mas o resultado da propiciação é paz com Deus, que abre caminho para a justificação e seus resultados, discutidos em 5:1-11.
“...Seu sangue...”, tanto o preço do resgate como o meio do “apaziguamento” de Deus.


“...Mediante a fé...” – ela sempre é o meio pelo qual nos apropriamos da provisão.


Com isto se completam os três elementos indispensáveis no processo da justificação, cada um ligado a uma específica Pessoa da Divindade: O PAI – a graça; O FILHO – o sangue; O ESPÍRITO SANTO – a fé.


“...Manifestar Sua justiça...” - novamente encontramos o tema da revelação dinâmica da salvação. Essa é uma reiteração do ato de Deus “propor”, já que, no grego, este verbo contém a ideia de um ato público. A morte de Cristo foi pública e isto revela a justiça de Deus.



Mas o sentido de justiça salvífica nesse verso e no seguinte se confunde com o sentido de justiça como atributo do caráter de Deus.



Isto é evidenciado pela afirmação de ter Deus, em épocas passadas, tolerado o pecado e o deixado impune (cf. At 14:16; 17:30).


Paulo quer dizer que, no passado, Deus sustou Sua ira, isto é, não visitou os homens em seus pecados. Isso não deve ser confundido com perdão ou remissão. Significa que Deus não executou sobre o homem a completa medida do Seu desprazer, mas exerceu tolerância pelos pecados do homem.


Isso tornou necessário que Deus revelasse agora, na propiciação efetuada por Cristo, a Sua justiça, pois a tolerância exercida no passado poderia levar o homem a pensar que Deus estava abrindo mão de Sua própria justiça. Havia o perigo de a inviolabilidade da justiça de Deus ser obscurecida na mentalidade do homem. A tolerância de Deus corria o risco de ser mal interpretada, ou seja, de ser tida como indiferença às reiterações da justiça e a suspensão da aplicação da ira ser considerada como uma anulação do julgamento. Era necessário que ficasse bem claro que Deus não estava sendo indulgente para com o pecado.


Portanto, ao derramar Cristo Seu sangue como propiciação, Deus dá uma demonstração pública, aberta, de que Seu desprazer pelo pecado continua inviolado e em pé, e que Sua ira só não se abateu e se abate sobre o pecador porque ela se abateu sobre um Substituto. Assim para Deus ao mesmo tempo justificar o pecador e não abrir mão de Sua justiça, Ele propôs o derramamento do sangue de Cristo (ou seja, Seu sacrifício) como meio de dar plena satisfação à Sua justiça. Isso faz também com que a justiça de Deus seja vindicada, já que antes correu o risco de ser mal interpretada.


Assim, a tolerância de Deus e Seu passar por alto os pecados anteriormente cometidos exigiram dEle a demonstração de Sua justiça inerente. Isso Ele fez entregando Seu Filho para ser morto na cruz. A cruz , portanto, evidencia tanto Seu amor pelo pecador como Seu ódio contra o pecado. Ali, Sua ira é apaziguada, porque Sua justiça é satisfeita. Essa demonstração de Sua justiça nos revela finalmente que a justificação do pecador demandou nada menos que a propiciação feita no sangue de Jesus.


“...Justo e justificador...” – Todo esse processo fundamentado no sacrifício da cruz faculta a Deus o ato de justificar o pecador sem deixar de condenar o pecado e sem abrir mão de Sua justiça. Ao mesmo tempo em que justifica o pecador, Ele continua sendo justo.



Como a lição bem coloca, “por causa da cruz do Calvário, Deus pode declarar justos os pecadores e ainda ser considerado justo aos olhos do Universo. Satanás não pode apontar seu dedo acusador para Deus, pois o Céu fez o sacrifício supremo. Satanás acusou Deus de pedir da raça humana mais do que Ele próprio estava disposto a dar. A cruz refuta essa acusação.”


“Onde... a jactância? Foi de todo excluída.” – O orgulho religioso, o triunfalismo, o exclusivismo e outros ismos ligados ao legalismo são eliminados. Lei, no v. 27, é usada com dois sentidos: (1) lei das obras, isto é, o legalismo, ou sistema humano de salvação; e (2) lei da fé, ou seja, a norma divinamente estabelecida para o desfrute da salvação; exclusivamente pela graça.


Vemos agora que a palavra lei chega a ser empregada por Paulo com o sentido de salvação pela graça. Todavia, a fé tem sido revelada como o meio, ou método, e não como fonte de salvação. Ninguém pode se jactar da fé que possui. A fé é um dom de Deus e não repousa na capacidade do homem, muito menos nalgum mérito que ele pense possuir.


V. Fé e obras


Já que somos justificados pela fé sem as obras da lei (3:28), podemos transgredi-la à vontade? Essa é questão que a pergunta 6 levanta. A lição mesma vai bem ao ponto, explicando que a obediência à lei não é descartada pelo plano de salvação. Se assim fosse, seria inevitável a conclusão de que justificação pela fé é licença para pecar, pois o pecado é a transgressão da lei (1Jo 3:4). Seria o mesmo que um juiz, ao inocentar o réu num tribunal, estivesse lhe dizendo: Bem, você agora está livre para sair daqui e roubar e matar quanto quiser. Se isto acontecesse, seria o juiz e não o réu que mereceria ir para a cadeia!


Mas tal é a conclusão, agora no âmbito espiritual, a que chegam alguns leitores de Paulo, em resultado de uma interpretação apressada, portanto superficial, daquilo que ele afirmou. E isso não é de agora, porque mesmo os contemporâneos do apóstolo, seus oponentes, começaram a disparatar, torcendo seu ensino (ver 3:8).


No intuito de que ninguém se equivocasse com seu ensino, o apóstolo foi muito claro, preciso, em suas colocações, chegando a dizer: “Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado para que seja a graça mais abundante?” (6:1). Em outras palavras, continuaremos transgredindo a lei, para que a “justificação pela fé sem as obras da lei” cada vez mais se efetive? A isso ele respondeu: “De modo nenhum! [o sentido é “Deus nos livre de tal ideia!”] Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?” (v. 2). Tendo o pecado como transgressão da lei, a resposta de Paulo pode ser assim expressa: “Como viveremos ainda transgredindo a lei, nós que morremos para a transgressão?”


Impressionante! É o plano divino da justificação pela fé que nos habilita a, “morrendo para o pecado”, cumprir a vontade de Deus exposta em Sua lei. Como a lição estabelece, “o ensino de Paulo é que, embora a obediência à lei não seja o meio da justificação, a pessoa que é justificada pela fé ainda observa a lei de Deuse, de fato, é a única que pode guardar a lei. Uma pessoa não regenerada, que não foi justificada, nunca poderá cumprir os requisitos da lei.”



Pastor e professor do SALT ora jubilado. Engenheiro Coelho, SP

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